Anemia: como evitar que o seu filho tenha esse problema

08/07/2015

A falta de ferro é a principal causa desta condição, que afeta mais de metade das gestantes e pode se manifestar por palidez e apatia. Conheça os principais sintomas e saiba como mantê-los longe de você e do seu bebê.

Cansaço, fraqueza, tontura, mal-estar, desmaio... É bom ficar alerta: sinais como esses durante a gravidez podem indicar que você faz parte de uma parcela significativa de mulheres que sofrem de anemia nesse período. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema, que se caracteriza pela dificuldade do sangue em levar oxigênio aos tecidos do corpo, acomete 52% das mulheres à espera de um bebê nos países em desenvolvimento.

Não por acaso, a ciência está sempre em busca de soluções para combater o problema. Este ano, por exemplo, nutricionistas do Instituto de Pesquisa St. John’s, em Bangalore, na Índia, desenvolveramum biscoito enriquecido com ferro para reduzir o número de gestantes anêmicas, que chega a 58% no país. No Brasil, há quase 15 anos as farinhas de milho e de trigo são fortificadas com ferro e ácido fólico, justamente para prevenir a anemia. Isso porque sua causa mais comum é a deficiência de ferro. Os glóbulos vermelhos (células do sangue) precisam desse micronutriente para formar a hemoglobina, uma proteína que transporta o oxigênio até os nossos órgãos e músculos, permitindo que funcionem a todo vapor.

Mas, apesar de ser o motivo mais frequente, a falta de ferro não é a única culpada pelo aparecimento da anemia. “Existem sangramentos, infecções ou inflamações que provocam anemia secundária, além de doenças hereditárias, como talassemia e anemia falciforme”, explica Sandra Loggetto, hematologista da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, de São Paulo. De qualquer forma, é normal que os níveis de hemoglobina caiam um pouco durante a gravidez. “Mesmo as mulheres saudáveis apresentam redução da concentração dessa molécula, o que não causa problemas nem a ela nem ao feto, pois, embora a taxa esteja diminuída, há um aumento no volume de sangue como um todo”, esclarece Rogério Tabet Oliveira, ginecologista do Instituto Horas da Vida, em São Paulo. Ou seja, para dar conta de fornecer nutrientes, oxigênio e garantir que o bebê cresça saudável dentro da placenta, o corpo da mãe aumenta a quantidade de sangue em circulação. O aporte maior também garante proteção contra eventuais sangramentos durante o parto.
 

Como se blindar

Por outro lado, aumenta a necessidade de ferro disponível no corpo da mãe. “No decorrer da gestação, conforme o bebê se desenvolve, há uma demanda maior pelo mineral, e isso leva à anemia, que é mais comum por volta do sétimo mês”, aponta Claudio Bonduki, ginecologista da Universidade Federal de São Paulo, na capital paulista. Não quer dizer, entretanto, que só as gestantes no estágio final devem ficar atentas. Apesar de ser mais comum no último trimestre, quando o bebê já cresceu, o ideal é fazer hemogramas no começo, no meio e no fim da gestação, como orienta Sandra. Além dos exames de sangue, é importante reparar nos sintomas, que são facilmente confundidos com estafa ou estresse. Na anemia, o cansaço é progressivo e há também uma palidez, que pode ser percebida no tom da mucosa que envolve os olhos e o lábio. Elas ficam bem menos vermelhas do que o normal. Se não for tratado, o quadro tende a evoluir. As principais consequências para a mãe são estomatites, fraqueza, queda de cabelo, unhas quebradiças e diminuição do desempenho físico e mental. Alterações no sistema cardiovascular e na imunidade também podem surgir.

Graças ao elaborado sistema de proteção do organismo da mulher, dificilmente a anemia impacta na saúde do bebê. Mas essa possibilidade não deve ser descartada. “A doença pode se traduzir no atraso do crescimento fetal, em risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e déficit no desenvolvimento cognitivo”, diz o imuno-hemoterapeuta Antonio Robalo, presidente do Anemia Working Group Portugal, entidade europeia que se dedica a estudar o impacto da anemia e as melhores estratégias de prevenção.

Não é preciso esperar a confirmação do diagnóstico para tomar uma providência. “Como medida de saúde pública, a OMS recomenda que todas as mulheres, mesmo saudáveis, suplementemferro com comprimidos durante o terceiro trimestre de gestação”, afirma Beatriz Botéquio, nutricionista da Clínica Equilibrium, em São Paulo. A vitamina B12 e o ácido fólico – esse último bem conhecido pelas futuras mães – também são fundamentais para a formação dos glóbulos vermelhos no sangue. É possível, ainda, aumentar as doses das vitaminas e dos minerais necessários durante toda a gestação fazendo escolhas inteligentes no cardápio (veja o quadro ao lado). O que não significa, claro, que a grávida deve comer por dois. “Um acréscimo de 300 calorias diariamente já é o suficiente para suprir as necessidades do bebê”, detalha Beatriz. E atenção para o consumo de vitamina C, que ajuda na absorção do ferro no organismo, enquanto o cálcio do leite pode atrapalhar esse processo. Receitas como estrogonofe e algumas mousses, que levam creme de leite, e o hábito de tomar leite antes ou depois das refeições, portanto, não são boas opções. Com esses cuidados e o acompanhamento de um especialista durante todo o pré-natal, é possível espantar essa ameaça e passar a gravidez, literalmente,
com saúde de ferro.
 

Quando o problema é mais grave

A assistente administrativa Giuliana Antonelli, 25 anos, descobriu que estava grávida aos cinco meses de gestação – ela não desconfiou antes pois teve sangramentos nesse período. No sexto mês, com a imunidade baixa, desenvolveu infecção urinária e teve de ser internada. Foi aí que os médicos descobriramque ela estava com anemia e, como não respondia bemao tratamento, investigaram mais e identificaram a talassemia, doença hereditária que provoca um estado de anemia quase permanente no organismo. Giovanna, sua filha, hoje com7 anos, nasceu comapenas 1,5 quilo. É uma criança saudável, mas os médicos estão sempre de olho para
garantir que ela não desenvolva o mesmo problema. Giuliana, que precisa ingerir pílulas de sulfato ferroso diariamente, teve mais um filho, de 5 anos. “Como já estávamos preparados, passamos pela segunda gravidez semproblema nenhum.”
 

Prevenção no prato

Saiba quais as principais fontes dos nutrientes que ajudam a afastar a anemia:

FERRO: Está nas carnes vermelhas, em especial no bife de fígado, nos ovos, nas verduras escuras e nas leguminosas, como feijão.
ÁCIDO FÓLICO: Você o encontra nos vegetais verde-escuros, no abacate, na abóbora, no melão, nos cereais integrais e no
gérmen de trigo. Para tirar melhor proveito, dê preferência às frutas e aos legumes crus.
VITAMINA C: Ela auxilia na absorção do ferro e está presente em frutas cítricas como laranja, mexerica, limão e kiwi.
VITAMINA B12: Suas fontes são os alimentos de origem animal, como carne, leite e ovos.



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